quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A GESTÃO DO CONHECIMENTO - UM NOVO MITO DA CAVERNA?

É fato hoje que quem detém a informação possui um diferencial com relação à concorrência! Mas isso não é uma invenção dos novos tempos ou das novas teorias que regem as estratégias em empresas cada vez mais aparelhadas e automatizadas. Toda informação estrategicamente bem veiculada, agrega valor, se reflete em resultados e, portanto, gera lucro. Estamos vivendo uma época de extrema rapidez em tudo. Tecnologias, sistemas, processos... O que hoje serve, daqui 6 meses (as vezes menos que isso) já é obsoleto. 


Mas, o que é conhecimento? Por que ele é tão valioso?

Vamos voltar um pouco no tempo e nos apropriar desse conceito da forma como nos descreve Platão na alegoria da caverna na República. Platão narra o diálogo em que Sócrates explica ao jovem Glauco o que é e como se adquire o conhecimento verdadeiro. Sócrates propõe imaginar uma caverna separada do mundo externo por um alto muro e a luz exterior penetra no breu por uma pequena fresta. Os homens ali acorrentados não podem se mover e olham para sombras projetadas no fundo da caverna. Acreditam que essas sombras são a realidade. Ouvem sons que vem de fora da caverna, mas não conhecem o que de fato os produzem. Esta é a realidade que conhecem.

Até que um dos prisioneiros consegue fabricar um artefato e rompe os grilhões. Avança para fora da caverna com grande esforço e se vê cegado pela intensa luz. Tem o impulso de retornar a caverna mas permanece na luz e aos poucos se habitua e começa a ver o mundo. Percebe que só conhecia sombras. Não quer voltar mas, pensando nos que ficaram, retorna. Porém se acostumou com a luz, é desajeitado, não sabe se comportar nesse ambiente que antes era familiar. Tenta dividir sua experiência com os demais e se torna objeto de zombaria. Corre o risco de ser morto pelos homens das sombras.
Encontramos várias re-leituras desse mito, tão atual em nosso tempo de tanta modernidade.
Mas... qual a relação do mito da caverna com o que ocorre hoje nas empresas?
Você sabe mensurar o valor do seu conhecimento? O que você agregou ao Capital Intelectual da organização onde você trabalha? O que você recebeu dela? Com certeza o valor é muito maior do que se pode mensurar pois apenas o conhecimento explícito é passível de ser transformado em processos bem estruturados que visam obter vantagens competitivas no mercado. O conhecimento não externado, também chamado de conhecimento tácito, é abstrato, não agrega valor enquanto não for disponibilizado, aproveitado, tornado explícito.
Já temos aqui alguns elementos de nossa análise do mito da caverna. Poderíamos talvez pensar que exista um mundo de cores, luzes e sons muito maiores que os já previamente padronizados e disponibilizados nos processos, rotinas e sistemas de nossas empresas. Quanto se produz hoje em conhecimento, fruto da criatividade e da necessidade de buscar soluções inovadoras? Quanto se reproduz de práticas já tantas vezes recicladas que nem sabemos mais quem foi o autor original da idéia? Não estaríamos de volta na caverna?
Hoje temos profissionais especializados em fazer a Gestão do Conhecimento utilizando diversas ferramentas. Temos uma tecnologia cada vez mais voltada para a otimização dos dados, do tempo e dos espaços. O que deu bons resultados pode e deve ser compartilhado. Passamos a reciclar conhecimento. Ou seriam apenas informações?
E o que acontece com aquele que propõe algo fora do que está previsto ou previamente padronizado? Resistência? Quanto tempo leva até sua idéia inovadora vinda da percepção diferente da mesma realidade ser aceita? Toda mudança assusta. E a luz dói nos olhos!!!
Com base nisso trago minha reflexão. A verdadeira Gestão do Conhecimento está em dar margem ao novo e oferecê-lo de forma organizada, com fluxos inteligentes e dinâmicos. Somente assim estaremos em real vantagem competitiva pois aquilo que já foi engessado já está ultrapassado.
Cladismari Zambon