“Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?”
Álvaro de Campos
Esse pequeno trecho do
poema de Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) soa familiar?
O desconhecido nos invade todos os dias, em casa, no trabalho, na rua... cada
pessoa ou idéia nova, por ser nova, nos causa um certo desconforto. Mente quem
diz que não tem medo do desconhecido e da mudança. Mente quem diz que deseja
100% de mudança em sua vida. Aliás, isso só seria possível nascendo novamente,
e mesmo assim há controvérsias de ordem religiosa e cultural também para esta
afirmação. Mas não quero ir tão longe em minha reflexão. Quero apenas levantar
um ponto que considero essencial: o conhecido que desconheço e me amedronta.
Para tanto vou
relembrar um filme infantil (com um tema bem adulto) que muitos com certeza
assistiram – Monstros S.A. Num rápido resuminho
para não perder a graça e a beleza do filme vou apontar alguns pontos que
considero importantes. Pensemos em nossas empresas, hierarquias, nossas metas,
nossos processos e fluxos, salas de treinamentos, brigas de egos inflamados, trocas
de experiências informais e os mitos internos eternamente alimentados pelas
pessoas que compõem esse emaranhado de relações da organização. E qual a finalidade
daquela empresa no filme? Provocar medo nas crianças? Não! O medo é a energia
que move tudo. A finalidade é gerar energia, e energia é movimento, é mudança.
Todos temos monstros no armário prontos a perturbar nosso sossego. E vez ou
outra eles saem e fazem um estrago... até que percebemos que o monstro na
verdade não é tão feio... é até bonitinho, parece um gatinho. Mas para isso é
necessário conhecê-lo, respeitá-lo e se fazer respeitar. Difícil? Muito
difícil! Mas disso depende nossa sobrevivência. Quem é monstro teme perder o
poder mantido através do medo.
Mas... vamos
complicar mais um pouquinho! A quem pertence o medo? Os meus medos pertencem a
mim, a mais ninguém. São frutos de minhas fantasias e de minhas experiências.
Os meus medos são produzidos e alimentados dentro de mim, desde pequena, e
tornados lei. Eu aprendi que tenho que tomar cuidado com quem fala alto, com
quem é maior do que eu, mais forte, e tem poder de decisão. Não é assim? Mas
também aprendi que ninguém tem sempre razão, que os pais e professores (e
depois os gestores e líderes) também erram e... também têm medo. Eu posso lidar
com meus medos mas não posso mensurar a dimensão dos medos dos outros, nem suas
reações. Mas com certeza o conhecimento é a chave de tudo. O monstro vira
gatinho quando eu percebo (e conheço) aquilo que pensava não conhecer. Ou
seja... que eu sou dona da mudança que tanto desejo e temo. As mudanças são
necessárias mas não posso exigir que todos dentro da empresa recebam as
propostas e projetos com o mesmo entusiasmo de quem já visualiza o futuro
(conhecimento também é isso). Vale então investir (e muito) na mudança de
cultura visando o desenvolvimento das pessoas em todos os níveis, pois se o
medo (do desconhecido) gera energia suficiente para paralisar uma empresa, o
amor (vestir a camisa é isso – amor) é capaz de reverter até os quadros mais
sombrios.
E fica a pergunta...
“Tens, como Hamlet, o pavor do
desconhecido?”
Encontrei teu blog por acaso. Tenho voltado toda a semana, para ler mais textos. Continue, conquistastes um leitor fiel. Walter
ResponderExcluirWalter, obrigada e seja bem vindo ao blog.
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