quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

A GESTÃO DO CONHECIMENTO - UM NOVO MITO DA CAVERNA?

É fato hoje que quem detém a informação possui um diferencial com relação à concorrência! Mas isso não é uma invenção dos novos tempos ou das novas teorias que regem as estratégias em empresas cada vez mais aparelhadas e automatizadas. Toda informação estrategicamente bem veiculada, agrega valor, se reflete em resultados e, portanto, gera lucro. Estamos vivendo uma época de extrema rapidez em tudo. Tecnologias, sistemas, processos... O que hoje serve, daqui 6 meses (as vezes menos que isso) já é obsoleto. 


Mas, o que é conhecimento? Por que ele é tão valioso?

Vamos voltar um pouco no tempo e nos apropriar desse conceito da forma como nos descreve Platão na alegoria da caverna na República. Platão narra o diálogo em que Sócrates explica ao jovem Glauco o que é e como se adquire o conhecimento verdadeiro. Sócrates propõe imaginar uma caverna separada do mundo externo por um alto muro e a luz exterior penetra no breu por uma pequena fresta. Os homens ali acorrentados não podem se mover e olham para sombras projetadas no fundo da caverna. Acreditam que essas sombras são a realidade. Ouvem sons que vem de fora da caverna, mas não conhecem o que de fato os produzem. Esta é a realidade que conhecem.

Até que um dos prisioneiros consegue fabricar um artefato e rompe os grilhões. Avança para fora da caverna com grande esforço e se vê cegado pela intensa luz. Tem o impulso de retornar a caverna mas permanece na luz e aos poucos se habitua e começa a ver o mundo. Percebe que só conhecia sombras. Não quer voltar mas, pensando nos que ficaram, retorna. Porém se acostumou com a luz, é desajeitado, não sabe se comportar nesse ambiente que antes era familiar. Tenta dividir sua experiência com os demais e se torna objeto de zombaria. Corre o risco de ser morto pelos homens das sombras.
Encontramos várias re-leituras desse mito, tão atual em nosso tempo de tanta modernidade.
Mas... qual a relação do mito da caverna com o que ocorre hoje nas empresas?
Você sabe mensurar o valor do seu conhecimento? O que você agregou ao Capital Intelectual da organização onde você trabalha? O que você recebeu dela? Com certeza o valor é muito maior do que se pode mensurar pois apenas o conhecimento explícito é passível de ser transformado em processos bem estruturados que visam obter vantagens competitivas no mercado. O conhecimento não externado, também chamado de conhecimento tácito, é abstrato, não agrega valor enquanto não for disponibilizado, aproveitado, tornado explícito.
Já temos aqui alguns elementos de nossa análise do mito da caverna. Poderíamos talvez pensar que exista um mundo de cores, luzes e sons muito maiores que os já previamente padronizados e disponibilizados nos processos, rotinas e sistemas de nossas empresas. Quanto se produz hoje em conhecimento, fruto da criatividade e da necessidade de buscar soluções inovadoras? Quanto se reproduz de práticas já tantas vezes recicladas que nem sabemos mais quem foi o autor original da idéia? Não estaríamos de volta na caverna?
Hoje temos profissionais especializados em fazer a Gestão do Conhecimento utilizando diversas ferramentas. Temos uma tecnologia cada vez mais voltada para a otimização dos dados, do tempo e dos espaços. O que deu bons resultados pode e deve ser compartilhado. Passamos a reciclar conhecimento. Ou seriam apenas informações?
E o que acontece com aquele que propõe algo fora do que está previsto ou previamente padronizado? Resistência? Quanto tempo leva até sua idéia inovadora vinda da percepção diferente da mesma realidade ser aceita? Toda mudança assusta. E a luz dói nos olhos!!!
Com base nisso trago minha reflexão. A verdadeira Gestão do Conhecimento está em dar margem ao novo e oferecê-lo de forma organizada, com fluxos inteligentes e dinâmicos. Somente assim estaremos em real vantagem competitiva pois aquilo que já foi engessado já está ultrapassado.
Cladismari Zambon


domingo, 9 de julho de 2017

O FIM COMO RECOMEÇO - sobre a capacidade de dar a volta por cima



Quem tem um 'porquê' enfrenta qualquer 'como'.

Viktor Frankl

Sabe quando você já perdeu o rumo e a esperança de que algo ainda pode dar certo na sua vida? Quando tudo parece não ter mais sentido? Quando você sente que não adianta mais lutar pois tudo que você investiu, se dedicou, construiu... tudo... tudo foi embora num sopro de qualquer coisa que você nem consegue ver de onde veio?

Então... todo mundo em algum momento se sente assim como você. Faz parte da existência humana acreditar, investir, crescer, perder, sofrer pela perda, desacreditar de tudo e... finalmente... acordar e acreditar novamente... recomeçar!

Mas o que faz com que algumas pessoas retomem seus sonhos e projetos novos com mais rapidez e eficiência que outras? Algumas pessoas perdem tudo e descobrem que podem ser felizes de outro jeito, com outros projetos, com outros parceiros...

Você já ouviu falar em “resiliência”?

O termo resiliência quer dizer – em seu significado original, na Física, – o nível de resistência que um material pode sofrer frente às pressões sofridas e sua capacidade de retornar ao estado original sem a ocorrência de dano ou ruptura.

A Psicologia pegou emprestado a palavra, criando o termo resiliência psicológica para indicar como as pessoas respondem às frustrações diárias, em todos os níveis, e sua capacidade de recuperação emocional.

Viktor Frankl, Psiquiatra Austríaco autor do livro “Em busca de sentido”, relatou sua experiência num campo de concentração. Na experiência de total despojamento de identidade e sentido, percebeu que algumas pessoas se mantinham vivas e ativas, mesmo sem as mínimas condições de sobrevivência e sanidade. Outros enlouqueciam e se deixavam morrer. A esta capacidade de retomar a vida existente em um fio ele chamou de resiliência.

Frankl afirma que é "a vontade de sentido" do homem o que lhe permite resistir ao sofrimento e à dor sem sentido: a vida é sofrimento e, para termos qualquer esperança de sobreviver ou prosperar, precisamos encontrar sentido neste sofrimento.

Tomamos a decisão de seguir em frente, de continuar acordando e vivendo dia após dia porque acreditamos que existe um propósito maior e um senso de responsabilidade na nossa vida.

"Quando não conseguimos mais mudar uma situação, temos o desafio de mudar a nós mesmos"

PILARES DA RESILIÊNCIA

1. Capacidade de enfrentamento – você pode escolher entre enfrentar ou desistir. Sua vida não vai melhorar se você não fizer alguma coisa a respeito. Existem duas formas de interpretar os fatos e analisar sua experiência de viver:

a. Interpretação negativa dos fatos – se colocar na posição de vítima da situação só vai fechar seus olhos e conduzir suas emoções para o fracasso.

b. Interpretação ativa dos fatos – assumir a responsabilidade sobre os problemas e dificuldades que tiram seu sono. Isso implica em uma atitude de auto-analise e analise de todos os aspectos que envolvem a sua experiência de viver. O que realmente aconteceu, suas perdas, seus ganhos, as pessoas que estão com você (e as que não estão)... enfim... será que realmente tudo acabou num sopro? Tome as rédeas da sua vida, da parte que você sabe que ainda tem domínio.

2. Desenvolvimento de um projeto pessoal de vida

“O sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de uma dedicação pessoal a uma causa maior”,dizia Frankl.

Desta forma, temos que desenvolver projetos que tragam um sentido a nossa existência, pois isso nos torna mais resilientes frente às adversidades da vida. Quando eu tenho um projeto maior para me apoiar, entendo que os problemas são apenas obstáculos a serem superados, pois persigo algo muito maior. Sem mimimi, sem auto-promoção, sem alarde... simplismente faça algo. Algo importante, mesmo que pareça pequeno.

3. Capacidade de compreender nossas emoções

Pode parecer algo simples, entretanto, não é o que ocorre. Vivemos usualmente sem entrar em contato com nossas emoções e isso pode nos confundir bastante. Estar atento aos nossos sentimentos é uma das maneiras mais simples de desenvolver nossa capacidade de enfrentamento emocional. Estar em contato com nossas emoções nos faz mais ágeis na busca daquilo que efetivamente nos faz bem, como também na evitação das situações que nos fazem mal. Vivemos um tempo em que as emoções são fotografadas e partilhadas em redes sociais, cheias de filtros, artificiais, externalizadas em busca de "curtidas" que nos confirmam que estamos muito bem ou muito mal.

O RECOMEÇO

1. Avalie sua trajetória, o que foi bom, o que poderia ter feito diferente

2. Analise sua parcela de responsabilidade em todos os momentos do ciclo, principalmente no fim

3. Olhe para dentro de si mesmo – qual sua interpretação dos fatos? Vítima ou sujeito de sua história?

4. Busque o que você sabe e gosta de fazer. Pesquise, fique atento, sonhe, faça planos.

5. Desenvolva um novo projeto, pautado em sua experiência, com maturidade e responsabilidade – criatividade.

6. Mantenha o foco, a fé e a esperança.

CRESÇA!!!

Cladismari Zambon

quinta-feira, 13 de junho de 2013

EM BUSCA DA CAPACIDADE DE BUSCAR

Sabe uma coisa que me chama atenção? A rapidez com que uma informação, verdadeira ou não, se espalha nas redes sociais. Arrisco até dizer que as informações não verdadeiras (ou parcialmente verdadeiras) são as mais velozes. Acho isso fascinante, mas também assustador. Muito do que hoje se consome são palavras soltas, mensagens replicadas com fotos diversas, vídeos amadores (ou não), citações com autores duvidosos... nisso tudo vejo uma sede de exposição além da medida. É um novo vício, o de se expor e o de xeretar, mas sem uma real noção do que isso pode significar. E assim caminha a humanidade virtual. Rápida, indomável e extremamente fugaz.
Pois bem, essa rapidez merece uma reflexão. As mudanças tecnológicas não são acompanhadas de mudanças internas nas pessoas que compõem as redes – e por conseguinte, nossas famílias, nossas cidades, nossas empresas... Uma grande necessidade de apoio, respeito e carinho se reflete em cada post, em cada mensagem. Sentimento virtualizado, “roubartilhado” em reflexões emprestadas, fragmentadas e desconexas. Seria um reflexo do que vivemos? Uma perplexidade tão sem tamanho que toda palavra e imagem faz sentido de forma genérica e aplaca a angústia de ter que ser visto, lido e curtido? Não denunciaria uma falta?
Outro dia li algo quase impossível de precisar o autor pois, com certeza, já foi citado com vários nomes diferentes nas redes. Algumas pesquisas apontam que grande parte das pessoas pedem demissão do seu chefe. E também tenho lido muito sobre o tal “apagão de mão de obra”. E também vejo uma quantidade enorme de grandes profissionais, com carreiras sólidas e muita experiência... procurando emprego. Pois bem, isso tudo dá um samba bom. Pessoas buscam mais que salário, cargo e tecnologia – buscam respeito e reconhecimento. Será que esse "chefe" consegue avaliar o estrago que está fazendo? E este profissional, por sua vez, vai para o mercado em busca de algo – uma nova colocação onde possa se sentir respeitado e reconhecido, onde possa mostrar seu potencial e se desenvolver. Será que ele tem clareza do que está buscando? É atropelado pela rapidez com que milhares de currículos chegam para cada vaga, triados virtualmente. E lá vem o “apagão”. Em algum lugar as pessoas certas estão se perdendo dos lugares certos onde poderiam desenvolver seu potencial e, com isso, fazer crescer a empresa e acabar com o “apagão”. Parece uma fórmula simples, mas não é. No meio disso tudo existe algo mais importante que se perdeu nessa rapidez virtual. Não sabemos mais o que procurar, quem procurar e como procurar. Apenas... procuramos! Emprestamos sentimentos e queixas alheias por não sabermos mais como expressar a nós mesmos. Isso em casa, no trabalho e na sociedade.
Vale refletir sobre isso? Espero que sim pois precisamos urgentemente voltar a enxergar a subjetividade para aí sim encontrar sentido no que fazemos. Que nossa busca não seja por cargo, salário ou poder, mas sim por respeito, reconhecimento e amor. Amor pela vida, em todas as suas dimensões.

A pergunta então é – você sabe o que você busca?
Cladismari Zambon 

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A CRIATIVIDADE E O CAFÉ COM LEITE

É engraçado como as lembranças nos assaltam em alguns momentos. Simplesmente surgem do nada, aparecem flutuando no ar, como aqueles pontinhos brilhantes que me encantavam quando eu abria os olhos pela manhã, dormindo na casa da minha avó. Bem mais tarde percebi que não passava de um raio de sol que entrava pela janela e fazia aquele efeito mágico refletindo luz nos milhares de fragmentos de pó que flutuavam no ar... Mas confesso que minha primeira teoria era mais interessante. Eu pensava, em minha concepção infantil, que era uma fadinha que vinha me acordar, e que ela morava ali, na casa da minha avó. Uma fadinha brilhante que tinha cheiro de café com leite. Tinha cheiro de sol. Tinha cheiro de vó!
E o tempo passou, o raio de sol na janela deixou de ser a fadinha mágica com cheiro de café com leite. A pressa em acordar e correr para o trabalho expulsou a fadinha das manhãs de sol. No lugar dela quem me acorda hoje é o despertador, e os emails que começam a chegar antes mesmo de levantar da cama. Os pontinhos brilhantes não são mais perceptíveis, e o pó virou apenas pó. Cadê a magia? Cadê a fadinha?
Corro para o trabalho, o mesmo que tanto sonhei quando pequena. Ou talvez não seja exatamente o mesmo pois quando pequena sonhava em ficar grande para poder fazer todas as coisas que desejava... e não podia! Pois então, eu cresci. E isso não mudou. Eu continuo querendo fazer coisas que não posso. E pior... sem a fadinha com cheiro de café com leite das manhãs de sol na casa da minha avó. Será que crescer é isso?
Crescer é mais do que isso. Não é fácil enfrentar a vida sem a fadinha. Mas ao mesmo tempo é fascinante quando percebemos que nós mesmos nos tornamos donos do que queremos ser. O trabalho pode não ser o que sonhamos quando crianças... pode ser mais! E nossas conquistas podem ser maiores e, principalmente, reais! É só trazer cada pontinho brilhante que move nossa criatividade infantil para dentro de nossas organizações. Já pensou quanta coisa se pode fazer com um raio de sol com cheiro de café com leite?
Ok, ok, eu me rendo... isso é fantasia infantil... isso não existe em nossa correria do dia a dia, nem em nossos planejamentos estratégicos super sofisticados com investimentos incalculáveis.
Mas... daí eu pergunto: Por que seus funcionários fogem para postar mensagens nas redes sociais sempre que você desvia o olhar? O que eu vejo é uma explosão de fadinhas brilhantes em mensagens replicadas milhares de vezes... Replicadas, repetidas, não criadas ou vividas. Apenas reflexo de uma luz que vem de fora mas que remete a algo que em algum momento fez sentido.
E o que fazemos, em nome da segurança de nossas empresas e controle das informações? Tentamos represar o pensamento que passeia numa grande rede arquetípica moderna. Em vão! O pensamento não se represa sob pena de matar a criatividade.
Lanço aqui um desafio! Uma nova campanha! Diga o que inspira suas manhãs de sol e faz você levantar para mais um dia de trabalho. É aí que reside o seu desejo de crescer. É aí que você vai encontrar a luz que tanto busca para aquele problema que parece insolúvel. É aí que você vai encontrar o prazer de ser gente grande.

Eu começo – meu raio de sol tem cheiro de café com leite na casa da minha vó!
Cladismari Zambon

quarta-feira, 8 de maio de 2013

TEMPOS MODERNOS - TEMPO DE ESCOLHAS


Vivemos em tempos modernos. Viver em tempos modernos certamente não é tarefa das mais simples ou tranqüilas. Viver em tempos modernos é viver sem tempo. Corremos o dia inteiro, trabalhando, estudando, cuidando da casa, dos filhos, da conta bancária, das compras, etc. No fim do dia, muitas vezes lembramos que esquecemos alguma coisa, algo importante, o dia foi curto, o tempo foi pouco... Fizemos muito, mas não foi o bastante. Ou talvez não fizemos o que realmente era importante fazer... Que sensação estranha é essa de nunca ser o suficiente, nunca ser o bastante... Que insatisfação, que frustração, que angústia... Com certeza viver em tempos modernos não é fácil! Exige de nós uma capacidade que não temos certeza de possuir. Exige esforço, determinação, desprendimento, maturidade e, sobretudo, capacidade de fazer escolhas. Desde pequenos somos obrigados a fazer escolhas. Essa é uma tarefa nada fácil pois cada vez que apontamos para uma alternativa, temos que esquecer a outra. Às vezes recorremos ao “uni-duni-tê, salamê-mingüê”, ou ao “mamãe mandou eu escolher essa daqui”, na esperança de contar com a sorte e acertar. Ou talvez para não ter que pensar tanto... Ou talvez para não ter que assumir uma escolha que, por fim, se mostra menos acertada. Mas de qualquer forma a escolha é nossa, não importa como escolhemos, continua sendo nossa. Nossa vida, nossas escolhas... Aprendemos com cada escolha que fazemos, com cada acerto, com cada erro... Viver é fazer escolhas, é aprender... é crescer... 



Ou isto ou aquilo. 


Ou se tem chuva ou não se tem sol, 
ou se tem sol ou não se tem chuva! 
Ou se calça a luva e não se põe o anel, 
ou se põe o anel e não se calça a luva! 
Quem sobe nos ares não fica no chão, 
Quem fica no chão não sobe nos ares. 
É uma grande pena que não se possa 
estar ao mesmo tempo em dois lugares! 
Ou guardo dinheiro e não compro doce, 
ou compro doce e não guardo dinheiro. 
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo... 
e vivo escolhendo o dia inteiro! 
Não sei se brinco, não sei se estudo, 
se saio correndo ou fico tranqüilo. 
Mas não consegui entender ainda 
qual é melhor: se é isto ou aquilo. 

Viver em tempos modernos é viver fazendo escolhas, como neste belo poema de Cecília Meireles (1964), dirigido às crianças, mas que também serve para nós. Não podemos ter certeza de qual escolha é a mais acertada, muitas vezes apontamos a alternativa que nos parece mais fácil, menos sofrida, mas não necessariamente a que vai nos trazer realização, satisfação ou alegrias a longo prazo. Mas, se não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo, nem estender nosso tempo para fazer as duas coisas, talvez seja o momento de rever nossas prioridades. O relógio vai continuar marcando o passo de nossas vidas? Ou será que tem algo mais que possa ser feito? Em que lugar colocamos nossa família, nossos filhos, nossos amigos, nossa comunidade, nosso trabalho? Viver em tempos modernos também é crescer, amar e partilhar. Pense nisso!
Cladismari Zambon

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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

TENS, COMO HAMLET, O PAVOR DO DESCONHECIDO?


“Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?”
Álvaro de Campos



Esse pequeno trecho do poema de Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) soa familiar? O desconhecido nos invade todos os dias, em casa, no trabalho, na rua... cada pessoa ou idéia nova, por ser nova, nos causa um certo desconforto. Mente quem diz que não tem medo do desconhecido e da mudança. Mente quem diz que deseja 100% de mudança em sua vida. Aliás, isso só seria possível nascendo novamente, e mesmo assim há controvérsias de ordem religiosa e cultural também para esta afirmação. Mas não quero ir tão longe em minha reflexão. Quero apenas levantar um ponto que considero essencial: o conhecido que desconheço e me amedronta.
Para tanto vou relembrar um filme infantil (com um tema bem adulto) que muitos com certeza assistiram – Monstros S.A.  Num rápido resuminho para não perder a graça e a beleza do filme vou apontar alguns pontos que considero importantes. Pensemos em nossas empresas, hierarquias, nossas metas, nossos processos e fluxos, salas de treinamentos, brigas de egos inflamados, trocas de experiências informais e os mitos internos eternamente alimentados pelas pessoas que compõem esse emaranhado de relações da organização. E qual a finalidade daquela empresa no filme? Provocar medo nas crianças? Não! O medo é a energia que move tudo. A finalidade é gerar energia, e energia é movimento, é mudança. Todos temos monstros no armário prontos a perturbar nosso sossego. E vez ou outra eles saem e fazem um estrago... até que percebemos que o monstro na verdade não é tão feio... é até bonitinho, parece um gatinho. Mas para isso é necessário conhecê-lo, respeitá-lo e se fazer respeitar. Difícil? Muito difícil! Mas disso depende nossa sobrevivência. Quem é monstro teme perder o poder mantido através do medo.
Mas... vamos complicar mais um pouquinho! A quem pertence o medo? Os meus medos pertencem a mim, a mais ninguém. São frutos de minhas fantasias e de minhas experiências. Os meus medos são produzidos e alimentados dentro de mim, desde pequena, e tornados lei. Eu aprendi que tenho que tomar cuidado com quem fala alto, com quem é maior do que eu, mais forte, e tem poder de decisão. Não é assim? Mas também aprendi que ninguém tem sempre razão, que os pais e professores (e depois os gestores e líderes) também erram e... também têm medo. Eu posso lidar com meus medos mas não posso mensurar a dimensão dos medos dos outros, nem suas reações. Mas com certeza o conhecimento é a chave de tudo. O monstro vira gatinho quando eu percebo (e conheço) aquilo que pensava não conhecer. Ou seja... que eu sou dona da mudança que tanto desejo e temo. As mudanças são necessárias mas não posso exigir que todos dentro da empresa recebam as propostas e projetos com o mesmo entusiasmo de quem já visualiza o futuro (conhecimento também é isso). Vale então investir (e muito) na mudança de cultura visando o desenvolvimento das pessoas em todos os níveis, pois se o medo (do desconhecido) gera energia suficiente para paralisar uma empresa, o amor (vestir a camisa é isso – amor) é capaz de reverter até os quadros mais sombrios.
E fica a pergunta... “Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?”

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

RETENÇÃO DE TALENTOS – O CAROÇO DA AMEIXA

Às vezes é bom reler algumas antigas reflexões e ver o que crescemos, o que mudamos e o que continua fazendo todo sentido do mundo. Ver o que faríamos diferente e o que só agora conseguimos apreender o real significado daquilo que até parecia meio “maluquice” fora de hora. Pois bem, lembrei de um texto que escrevi tempos atrás, e fui “pescar” entre meus guardados a forma como pensei em escrevê-lo. É uma experiência interessante...
Pois bem, o texto toma por base uma crônica chamada Edmundo, o Céptico (Quadrante 1, Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1962, pag.122), escrita por Cecília Meireles. Cecília Meireles, além de ser um grande nome na poesia, escreveu quase 2500 crônicas ao longo de sua vida. Vou citar alguns trechos desta crônica e partilhar com vocês uma reflexão que hoje, mais do que nunca, se faz necessária.
Edmundo, o Céptico fala de um menino que não acreditava em nada que os adultos lhe diziam. Era chamado de teimoso quando o seu desejo era simplesmente descobrir suas próprias verdades através de suas próprias experiências. Apesar das recomendações dos adultos, quebrou os dentes tentando extrair o melzinho do caroço de ameixa. Em outro momento quase se afogou numa pipa de água. Fazia muitas perguntas mas não se satisfazia com as respostas. Dava trabalho na escola, nas festas, shows de mágica não tinham sentido para ele. Não admitia mentira e morreu cedo. “E quem sabe, meu Deus, com que verdades?”
É claro que toda crônica retrata um determinado contexto sócio-político e esta retrata uma situação bem peculiar que se experimentava na era Vargas. Mas... será que Edmundo ainda vive? Eu sinceramente espero manter o Edmundo vivo dentro de mim e espero cutucar os Edmundos que encontro em meu caminho. São os Edmundos inconformados com o conformismo do que está pronto. Estes  realmente são possuidores do conhecimento e da verdade. São capazes de arriscar e questionar. Para eles não servem respostas prontas, estas já  foram derrubadas, já não respondem às novas questões. Como diria Bob Marley... quando se pensa que tem todas as respostas a vida se encarrega de mudar todas as perguntas. E aí? Que fazer? Se as únicas respostas são as dos manuais, dos livros ou do Dr. Google, conhecedor de todas as coisas?
Não, Dr. Google não sabe tudo, nem Freud explica, nem todas nossas teorias e paradigmas são suficientes. Às vezes precisamos correr o risco de quebrar os dentes em busca do que realmente faz sentido (o melzinho do caroço de ameixa). Mas muito cuidado, nossa porção Edmundo não nos afasta do mundo, pelo contrario. Por mais que Edmundo não aceitasse tudo que vinha do mundo dos adultos, pertencia a ele, era do mundo (E-d-mundo), apenas tinha uma outra versão e uma outra visão do que experimentava. E tudo que é diferente... assusta, incomoda, desacomoda. Toda mudança aponta para GAPS que nem sempre quero reconhecer... E o resultado todos conhecemos: resistência!
Vocês devem estar se perguntando... onde ela quer chegar com tudo isso?
Pois bem, acho que tenho muito de Edmundo e não consigo ver ninguém confortável. Afinal... todo avanço tecnológico de nossas empresas só aconteceu (e continua a acontecer) por obra de Edmundos inconformados com os recursos (verdades) do seu tempo. E todo gestor sabe disso. Se tentar aprisionar suas equipes em metas e procedimentos sem vazão para a própria experiência logo terá pessoas desmotivadas e pouco colaborativas. E essa é a morte do Edmundo com todas as suas verdades. E esse Edmundo formado em nossas empresas (a um custo altíssimo) vai para a concorrência com todas suas “verdades”. E se encontrar ressonância em outros Edmundos abertos para a mudança...
Cladismari Zambon